Texto 1


Para uma morte saudável


Sentir medo da morte é ter a comprovação de que se está vivo, e que viver é o maior bem já possuído pelo homem. A morte representa o encontro com a última e maior crise que o homem experimentará em seu trajeto existencial.



A psiquiatra Elizabeth Klüber Ross, estudiosa da Morte, explica este medo com as seguintes palavras: “Quando retrocedemos no tempo e estudamos culturas e povos antigos, temos a impressão de que o homem sempre abominou a morte e, provavelmente, sempre a repelirá. Do ponto de vista psiquiátrico, isto é bastante compreensível e talvez se explique melhor pela noção básica de que, em nosso inconsciente, a morte nunca é possível quando se trata de nós mesmos. É inconcebível para o inconsciente imaginar um fim real para a nossa vida na terra e, se a vida tiver um fim, este será sempre atribuído a uma intervenção maligna fora do nosso alcance.



Explicando melhor, em nosso inconsciente só podemos ser mortos; é inconcebível morrer de morte de causa natural ou de idade avançada. Portanto, a morte em si está ligada a uma ação má, a um acontecimento medonho, a algo que em si chama por recompensa ou castigo” (Sobre a morte e o morrer- Elizabeth Ross- Pág. 6/2˚ parágrafo).



No primeiro parágrafo do artigo- Medo da morte/ O médico e o estudante de medicina e a morte- lemos: “A morte representa, essencialmente, o poder sobre o qual não temos nenhum controle, invisível, intangível, indomável, desconhecido. Tememos a morte por não sabermos como será o nosso encontro com ela, em que momento da nossa vida ocorrerá, o que representará para nós. O medo do inevitável fim existiria em todas as pessoas, ao longo de suas vidas, mesmo que seja negado ou mascarado.”



Seria terrível conviver com a idéia de morte diariamente. Logo, para sobreviver nos afastamos deste "mal". Não temos como fugir e nem como enganá-la, podemos apenas "ganhar tempo" contra ela, e esse tempo que temos é a vida. É absolutamente difícil criar empatia com a idéia de que morreremos, desconhecemos o “outro lado”. Só teremos tamanha proximidade da morte quando nos encontrarmos “cara a cara” com a ela. Relutaremos até o fim, negociaremos. Mas nenhum negócio consegue ser fechado após termos assinado a nossa sentença, quando nascemos.



“Todas as culturas humanas podem ser decodificadas como mecanismos engenhosos, calculados para tornar suportável a vida com a consciência da morte.” (Medo Líquido- Zygmunt Bauman - Cap. O pavor da morte, pag. 46).

O homem, durante séculos, busca criar defesas para tornar suportável conviver com a idéia de morte, como por exemplo: crenças na vida após a morte, na reencarnação, na alma eternizada após a libertação do corpo, e até sendo capaz de seguir uma vida regrada para evitar que sua alma fique presa na escuridão, ou seja, que vá para o inferno. Fazer parte de uma das linhas acima é uma forma de conceber a própria morte, de suportar a idéia do fim de sua existência na Terra.



Buscar compreender este medo é fundamental para vivermos a fim de desenvolver novas formas de aproveitar e aprender em vida. Assim, a morte será aceita de maneira menos traumática emocionalmente. É preciso identificar em nós as atitudes tomadas frente ao fim da vida, assim como, os sentimentos de negação e de afastamento deste tema, para então, concebermos a nossa própria morte.



No exercício da medicina nos depararemos com os pacientes ditos “moribundos”, esses estão no processo inevitável da morte orgânica, e cabe a nós médicos ajudá-los neste trajeto. A seguinte pergunta surge quando passamos por com doente terminal: Como ajudá-los?



Para nós, médicos em formação, aprender a tratar da questão morte é muito importante ao invés de simplesmente evitá-la. O médico terá de compreender as suas limitações, e não apenas tratar da cura orgânica, mas ele deverá desenvolver habilidades para cuidar da cura emocional dos pacientes, para então trabalhar a idéia de “morte saudável”.



O contrário disso existe quando não estamos prontos para aceitar a morte, e manifestamos nosso despreparo com negação, frieza e acabamos por nos afastar destes pacientes, os quais tanto precisam de um médico nos momentos finais de suas vidas. Isso não deve ser traduzido por nós como sentimentos de culpa, apesar de médicos e de assistirmos tantas mortes, somos seres humanos e também passamos por conflitos.



Encontrar uma melhor forma de aceitar o seu próprio fim é a uma maneira saudável de aceitar a vida que se vive e o encontro desta com a morte.



“Ajudar a si para oferecer a mão ao próximo.” (Fuzinatto- 2010)



O objetivo do que aqui foi exposto é exatamente nos colocar de encontro com a morte, de identificar em nós os sentimentos e atitudes que rondam o fim da existência. Aos interessados no tema gostaria que desenvolvessem um texto de no máximo 15 linhas expondo sua experiência ao imaginar seu próprio fim.



Deixo para vocês a minha experiência:



“Não sei do que estou morrendo, apenas sei que vou morrer... Tem momentos que a sinto tão próxima de mim, que o corpo gela e a alma escapa... Tremo só de pensar que pode estar me levando para junto dela... E se a verdade for a morte eterna? Como será a vida sem minha presença?... Não sei o que lá existe... Mas estou apegada demais do lado de cá que me recuso a segui-la... Como me desapegar sem tanto medo e dor?... Antes passava 24 horas pensando na vida, que estava viva! Agora, estou 24 horas a espera da morte... E tudo que penso é em como farei para passar o meu próximo minuto de vida ou se no próximo... Será ela quem passará por mim...” (Fuzinatto- 2010)



Grata,



Karina Fuzinatto (Monitor- Tutor)



(acadêmica 7˚ período/Karinafuzinatto@hotmail.com)